TROMBOFILIA X PRÉ-ECLÂMPSIA

 

 Uma patologia placentária que tem sido associada à trombofilia é a pré-eclâmpsia, e estima-se que 40% das pacientes que apresentam pré-eclâmpsia são portadoras de uma trombofilia subjacente. Entretanto, assim como outros resultados adversos da gravidez, os dados disponíveis são ainda misturados. Os casos associados com trombofilia parecem ter um fenótipo grave com um risco aumentado de HELLP (hipertensão, testes elevados de função hepática e plaquetas baixas). Estudos que analisaram essas associações são difíceis de interpretar devido a questões de análise estatística, incluindo a heterogeneidade entre as próprias pesquisas. 

Uma grande meta-análise descobriu que o fator V Leiden estava associado à pré-eclâmpsia com uma probabilidade de 2,5 para hipertensão grave durante a gravidez. Outros estudos, entretanto, não forneceram evidência tão convincente, com apenas um pequeno risco aumentado atribuído ao fator V Leiden na pré-eclâmpsia. Resultados semelhantes foram encontrados no caso da mutação do gene da protrombina, com apenas um pequeno risco de pré-eclâmpsia associada a este estado hipercoagulação. Outras trombofilias também podem estar associadas à pré-eclâmpsia, como sugerido por uma metanálise recente que encontrou uma razão de 12,7 para associação com a deficiência de proteína S e uma razão de probabilidade de 21,5 para associação com a proteína C. Infelizmente, a pesquisa incluiu muitos pequenos estudos que enfraqueceram a análise estatística em geral e nenhuma conclusão definitiva pode ser extraída.

 

Outros artigos também abordaram se há um papel ocupado pelas trombofilias nos resultados adversos de uma gravidez que resulta em bebês de baixo peso ao nascer ou atraso de crescimento intra-uterino. Uma meta-análise que avaliou os papéis do fator V Leiden e da mutação do gene da protrombina, bem como a homozigose do MTHFR e o risco de restrição do crescimento intra-uterino, não revelou uma associação subjacente. Outra meta-análise encontrou associação entre a deficiência de proteína S e atraso de crescimento fetal com probabilidade de 10,2. Novamente, essas análises não são definitivas devido ao pequeno tamanho da amostra dos estudos de componentes incluídos e aos intervalos de confiança amplos que diminuem o impacto dos achados.

Embora esses estudos apresentam pouca definição em muitas das associações entre trombofilias e resultados ruins da gravidez, muitos profissionais baseiam as decisões de conduta de tratamento nestes dados estatísticos minimamente conclusivos. Considerando essas associações, alguns até sugeriram que as trombofilias hereditárias devam ser rotineiramente testadas na população em geral. As diretrizes mais recentes do Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia postulam que as mulheres em quem o conhecimento de uma trombofilia terá um impacto direto no manejo clínico deve ser considerada para o rastreamento. Portanto, mulheres com história de tromboembolismo venoso (TEV) espontâneo ou parentes de primeiro grau com histórias de trombose devem ser consideradas para o teste. Contudo, as diretrizes do ACOG não recomendam o rastreamento de mulheres com histórico de perdas fetais precoces recorrentes ou não recorrentes ou resultados adversos da gravidez devido à falta de evidências de dados clínicos. Mas essa é uma conduta que vem mudando nos últimos anos. A triagem é controversa em mulheres que experimentam a perda em estágios posteriores da gravidez e que têm patologia placentária que sugere que a isquemia, o infarto ou a trombose de um vaso podem ter contribuído para a perda fetal. Na dúvida, é sempre prudente indicar o rastreio para Trombofilia. 

 

Todos os testes para estes distúrbios trombofílicos devem ocorrer bem fora de episódios de trombose ou gravidez, pois os resultados dos testes podem ser afetados nessas condições. Além disso, os pacientes não devem estar recebendo anticoagulação quando o teste é realizado. A dosagem de antitrombina pode ser imprecisa em pacientes usando heparina e a dosagem da proteína C e níveis de proteína S poderá ser menor em pacientes em uso de varfarina, por exemplo. 

 

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