EMPATIA, ACOLHIMENTO E RESPEITO: como ajudar quem vive a dor da perda gestacional.
De uns anos para cá, podemos perceber um movimento crescente em jornais e revistas digitais, além de blogs de saúde, chamando a atenção para a perda gestacional e todo complexo processo trazido por ela. A necessidade de viver o luto em todas as suas etapas da melhor forma possível é condição essencial para que aquela mulher ou aquele casal consiga se fortalecer e seguir adiante. Mas pra que isso efetivamente aconteça o apoio e a solidariedade das pessoas em nossa volta são essenciais, tornando o processo mais longo ou mais rápido.
Entretanto, talvez ainda pelo ranço do tabu que insiste em pairar sobre essa temática, a maioria das pessoas imersa na dor de perder um filho durante a gravidez acaba sofrendo em silêncio ou em isolamento. E nem sempre esse isolamento parte de quem vive a situação. Às vezes, a covardia e a falta de sensibilidade em lidar com a dor do outro faz com que familiares e amigos, outrora próximos, se afastem naturalmente. Triste? Muito.
Infelizmente, só quem vive a perda de um bebê (seja pré-natal, peri-natal ou pós natal) consegue dimensionar o quão solitário pode ser esse luto. E não deveria ser assim. As pessoas se preocupam em querer achar respostas, justificar o que, por vezes, é injustificável, dizem frases pré fabricadas quando deveriam apenas oferecer um par de braços e ouvidos. Um par de ombros onde possamos simplesmente desabar e demonstrar a fragilidade que existe naquele momento. Colo. Empatia e acolhimento é praticamente tudo que precisamos para, aos poucos, recuperar a confiança em nós mesmas e acreditar que é possível escrever um novo capítulo nas páginas da nossa vida com um final bem diferente daquele que vivemos. Enxergar novamente o belo quando tudo parece sombra e escuridão.
Minha história foi exatamente essa. Quatro perdas gestacionais muito sofridas. Pouco suporte ao meu redor. Não por má vontade de familiares e amigos que tanto me amam, mas pela dificuldade em lidar com um tema tão delicado. A maioria das pessoas vai sempre optar por se afastar diante de situações duras e de sofrimento intenso. Talvez por não terem vivido nada semelhante, talvez por preguiça ou falta de tato em se doar, cada qual deve ter a sua justificativa. Mas, quando olhamos de dentro, no meio do furacão, percebemos que é mais um mecanismo de defesa: não sei como lidar, melhor me afastar. Racionalizar demais é o principal erro. Um simples abraço sincero e apertado teria um valor inestimável na vida da mãe que sofre após a pior perda de todas.
Eu não sou uma pessoa frágil, talvez isso já dificulte uma aproximação ou leve uma imagem errada de que eu me basto e sei lidar sozinha com todas as situações impostas pela vida. Vã ilusão. Por vezes, uma couraça mais dura ou resistente é apenas um escudo para evitar demonstrar a fragilidade do momento. Basta um movimento para que ela deixe de estar lá.
Vale lembrar que somos seres diferentes e com características únicas. Muitas mulheres em situação de dor podem preferir a solidão em um primeiro momento. Mas isso não significa que ela está se colocando em isolamento ou devemos nos afastar. O bom senso e o respeito indicam que devemos sim permitir esse espaço, mas deixando claro (e reforçando isso vez ou outra) que ela pode e deve contar conosco. Que estamos ali, para o que precisar. Saber que temos com quem contar quando o ar parece faltar e a dor sufocar é extremamente saudável. Contar com alguém que deseja muito o nosso bem pode e deve fazer diferença.
Na dúvida sobre como agir diante da dor do outro, siga seu coração, use uma boa dose de empatia e considere a individualidade e personalidade daquele a quem direcionamos a nossa atenção, nosso cuidado. A chance de errar sob essas condições será mínima ou quase nula.